sexta-feira, 4 de outubro de 2013

POR VOLTA DE TRINTA MINUTOS ANTES DA PARTIDA...


Por volta de trinta minutos antes do início da grande partida os dois intelectuais procuram seus lugares.
Ricouer reconhece o número das cadeiras e pede para que seu companheiro o siga.

Na partição “nobre” do estádio, ambos caminham discretamente por dentre a corja de políticos, aduladores, artistas de ocasião, etc.

Ao se acomodarem percebem que terão visão privilegiada da partida.

Ricouer - Agrada-te estar aqui, amigo?

Furet - É-me indiferente. Mas, existe a possibilidade de convencê-lo a permitir que eu parta?

Ricouer - De forma alguma – brincou o velho – Vamos... Se anime.

Furet – Voltamos à terra depois de termos ambos  morrido – Disse o outro velhote inquieto – não obstante, para testemunhar um evento do futuro. Que me diz disso? (Ah! E a proposito, libertei-me do futebol com o prazer de quem se liberta de um senhor colérico e truculento).

Ricouer – hahaha! Considero uma bela oportunidade. Nossa experiência diante deste acontecimento possibilitará uma interpretação que nos coloca numa relação inédita com as coisas e pessoas do mundo vivido. Nossas identidades se apresentam aqui como fonte de criadora, novamente! E como assim voltamos a terra?! Por acaso estávamos no mar? Só poderíamos voltar desta maneira numa representação literária. E que importa que seja neste acontecimento... Esperava voltar para testemunhar um grande acontecimento – entre risos – Político?
           A movimentação no Estádio é Grande. Faltam apenas 10 minutos para entrada dos times em campo. Furet está sem sorte. Atrás dele, todos tocam a maldita caxirola. O Francês franziu a testa, respirou fundo e respondeu:
- Em primeiro lugar, não seja tolo. Será que depois de velho e morto você perdeu a noção das coisas? Veja o tamanho da cobertura da imprensa; veja a quantidade de imagens, sons, entrevistas, etc. que são registrados esta noite. Que importa nossa interpretação individual? Daqui uns anos talvez os jovens historiadores que por um triste acaso escolham este evento para analisar possam recorrer a estes registros para poder explicar algo relacionado às relações sociais. O que é que a sua interpretação pode fornecer de original? – O próprio Furet responde – Literatura talvez... Mas com todo respeito, meu caro: literatura barata.  Você não é nenhum Nelson Rodriguez. E em terceiro lugar: você é prolixo.

Ricouer – O loco!!! – Mas o autor conservava o bom humor e não estava arrependia de provocar seu amigo – HAHAHA! Você não consegue viver a experiência do esporte, e ainda quer agrega-lo a um fato social total! Tu sempre foste um positivista enrustido...!

Furet – Como todos nós franceses! – o velhote, após tomar folego, voltou ao seu estado semimorto e lançou a Ricouer um olhar irônico e de reconhecimento.
                
         Ricouer – Prefiro ser insultado como positivista (que todo mundo sabe que não sou) do que de prolixo. Você é que é burro e não entende a construção do conceito narrativo e tempo desde os antigos. Burro e sem paciência pra seguir a minha linha argumentativa profunda e sofisticada. Mas esta parece ser uma ótima oportunidade para que eu esclareça...

Furet – HAHAHA! – A energia do velho retornou através do escarnio e interrompeu Ricouer  pensando: “to de boa, hein” – OLHA LÁ COMEÇOU O JOGO!

De fato o jogo começara.

Ricouer – Mas nós ainda não exploramos a relação passado-presento-futuro! – respondeu o velho, nervoso, como se tivesse acabado seu tempo de fala num seminário – Nada te diz o fato de a história, de alguma forma, se repetir...

Furet – Sim... Escrevi algumas reflexões sobre a análise dessas séries de acontecimentos... pelo porte do evento uma coisas dessas acontecer duas vezes no mesmo lugar com os mesmos times é bastante significativa... Realmente instiga a curiosidade tanto do passado quanto do futuro. Mas aqui entre nós...: Eu sempre fui um Ex-membro ressentido do PCF, limito-me a dizer que a história se repete primeiro como tragédia e depois como...

Ricouer – Tá, tá... – Interrompeu o autor com consentimento – sabemos que o Brasil ganhará! Mas e a questão de como a narrativa...

E foi exatamente naquele instante que Furet se sentiu invadido novamente pela emoção do futebol (não se sabe se por conveniência ou não...). O fato é que já não pôde ver e ouvir mais nada além da disputa em campo. E esperou, de forma quase religiosa, uma vitória do Uruguai. 

Paulo Roberto da Silva Ito - 8612118 - Noturno

Um comentário:

  1. Diálogo coloquial e interessante, deu para compreender a colocação dos autores e suas diferentes concepções sobre história, porém poderia ter desenvolvido mais os conceitos.

    ResponderExcluir