POR VOLTA DE TRINTA MINUTOS ANTES DA PARTIDA...
Por volta de
trinta minutos antes do início da grande partida os dois intelectuais procuram
seus lugares.
Ricouer reconhece
o número das cadeiras e pede para que seu companheiro o siga.
Na partição “nobre”
do estádio, ambos caminham discretamente por dentre a corja de políticos,
aduladores, artistas de ocasião, etc.
Ao se
acomodarem percebem que terão visão privilegiada da partida.
Ricouer - Agrada-te
estar aqui, amigo?
Furet - É-me
indiferente. Mas, existe a possibilidade de convencê-lo a permitir que eu
parta?
Ricouer - De
forma alguma – brincou o velho – Vamos... Se anime.
Furet –
Voltamos à terra depois de termos ambos morrido – Disse o outro velhote inquieto – não
obstante, para testemunhar um evento do futuro. Que me diz disso? (Ah! E a proposito,
libertei-me do futebol com o prazer de quem se liberta de um senhor colérico e
truculento).
Ricouer –
hahaha! Considero uma bela oportunidade. Nossa experiência diante deste
acontecimento possibilitará uma interpretação que nos coloca numa relação
inédita com as coisas e pessoas do mundo vivido. Nossas identidades se
apresentam aqui como fonte de criadora, novamente! E como assim voltamos a
terra?! Por acaso estávamos no mar? Só poderíamos voltar desta maneira numa
representação literária. E que importa que seja neste acontecimento... Esperava
voltar para testemunhar um grande acontecimento – entre risos – Político?
A
movimentação no Estádio é Grande. Faltam apenas 10 minutos para entrada dos
times em campo. Furet está sem sorte. Atrás dele, todos tocam a maldita
caxirola. O Francês franziu a testa, respirou fundo e respondeu:
- Em primeiro
lugar, não seja tolo. Será que depois de velho e morto você perdeu a noção das
coisas? Veja o tamanho da cobertura da imprensa; veja a quantidade de imagens,
sons, entrevistas, etc. que são registrados esta noite. Que importa nossa
interpretação individual? Daqui uns anos talvez os jovens historiadores que por
um triste acaso escolham este evento para analisar possam recorrer a estes registros
para poder explicar algo relacionado às relações sociais. O que é que a sua
interpretação pode fornecer de original? – O próprio Furet responde –
Literatura talvez... Mas com todo respeito, meu caro: literatura barata. Você não é nenhum Nelson Rodriguez. E em
terceiro lugar: você é prolixo.
Ricouer – O loco!!!
– Mas o autor conservava o bom humor e não estava arrependia de provocar seu
amigo – HAHAHA! Você não consegue viver a experiência do esporte, e ainda quer agrega-lo
a um fato social total! Tu sempre foste um positivista enrustido...!
Furet – Como todos
nós franceses! – o velhote, após tomar folego, voltou ao seu estado semimorto e
lançou a Ricouer um olhar irônico e de reconhecimento.
Ricouer
– Prefiro ser insultado como positivista (que todo mundo sabe que não sou) do
que de prolixo. Você é que é burro e não entende a construção do conceito
narrativo e tempo desde os antigos. Burro e sem paciência pra seguir a minha
linha argumentativa profunda e sofisticada. Mas esta parece ser uma ótima
oportunidade para que eu esclareça...
Furet –
HAHAHA! – A energia do velho retornou através do escarnio e interrompeu Ricouer
pensando: “to de boa, hein” – OLHA LÁ
COMEÇOU O JOGO!
De fato o jogo
começara.
Ricouer – Mas nós
ainda não exploramos a relação passado-presento-futuro! – respondeu o velho, nervoso,
como se tivesse acabado seu tempo de fala num seminário – Nada te diz o fato de
a história, de alguma forma, se repetir...
Furet – Sim...
Escrevi algumas reflexões sobre a análise dessas séries de acontecimentos... pelo
porte do evento uma coisas dessas acontecer duas vezes no mesmo lugar com os
mesmos times é bastante significativa... Realmente instiga a curiosidade tanto
do passado quanto do futuro. Mas aqui entre nós...: Eu sempre fui um Ex-membro
ressentido do PCF, limito-me a dizer que a história se repete primeiro como
tragédia e depois como...
Ricouer – Tá,
tá... – Interrompeu o autor com consentimento – sabemos que o Brasil ganhará!
Mas e a questão de como a narrativa...
E foi
exatamente naquele instante que Furet se sentiu invadido novamente pela emoção
do futebol (não se sabe se por conveniência ou não...). O fato é que já não pôde
ver e ouvir mais nada além da disputa em campo. E esperou, de forma quase
religiosa, uma vitória do Uruguai.
Paulo Roberto da Silva Ito - 8612118 - Noturno
Diálogo coloquial e interessante, deu para compreender a colocação dos autores e suas diferentes concepções sobre história, porém poderia ter desenvolvido mais os conceitos.
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