segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Que lance! E que bolada!

É. E finalmente chegou o dia mais esperado do ano. Ou melhor, dos últimos 64 anos... Pelo menos para o brasileiro amante de futebol – que para quem vê de fora, como esses gringos, é qualquer um. Hehe.Quem diria que isso iria acontecer... Depois de todo esse tempo, quando a Copa é novamente realizada no Brasil, a final é no Maracanã e ainda por cima contra o Uruguai. É, Felipe... O que pra você tá cheirando novidade e festa, pro seu avô é revanche! Vamos entrando, vamos entrando... Nosso lugar nisso daqui já está garantido desde o ano passado”. Dizia um senhor de cabelos brancos na fila de entrada do estádio do Maracanã.
 Ricoeur, ouvindo o que o senhor dizia, deu um riso para si mesmo, pensando nas condições que o levaram até aquele cenário. Demonstrava certa ansiosidade. Logo sente alguém tocar seus ombros. Era Furet.
 F: “Tinha certeza que o encontraria aqui, meu amigo. E quem diria, hein?”

R: “Mas é claro que você iria aparecer a essa final... Como não pensei em te ligar para nos encontrarmos antes da partida e chegarmos juntos? E ai, vai me dizer que já sabe qual será o resultado com todo esse papel anotado?”
F: “O que é isso? Você não sabe o quanto eu já me encontrei nesses dois dias que estou aqui no Brasil... Tem muita gente anotando cada número que se vê na partida, como eu. Até me juntei com um pessoal, mas depois te falo sobre isso! Há quanto tempo está aqui? 
Furet, preocupado com a hora e o começo da partida, pois não poderia perder nenhum dado, vai empurrando Ricoeur para dentro do estádio.
R: “Você e essa paranoia com números e a concepção de ciência. Parece quase com os jovens garotos que estavam no meu hotel... Uma coisa eu tenho certeza: historiadores eles não eram. Hahaha...
Estou aqui desde o início da Copa... Você bem sabe que eu adoro futebol. Isso é pura narrativa. Cada lance, cada passe, tudo explicado por essa narrativa. Cada jogador está aqui à procura de alcançar o seu objetivo, mas nem todos sairão satisfeitos. A partida é a mimese II. Nossa vinda até esse momento é a mimese I, e a III você irá vivenciar.
Assisti a abertura em São Paulo. Você tinha que ver o caos que estava lá... Parece que ali estão algumas viúvas desse zagueiro do Uruguai, esse tal de Lugano... Chegam a dizer que tem simpatia por essa seleção. Achei bizarro... Cheguei aqui no Rio e a coisa se repete praticamente, mas muda o nome. É um tal de Loco Abreu, e tem mais um rapazote ai, da mesma região que o cabeludo...
Mas isso não vem ao caso. Foi uma Copa maravilhosa. Foi não, está sendo. E a euforia para se fechar com chave de ouro. É a bola começar a rodar pro espetáculo iniciar.”
 
O jogo começa. É chance pra lá, chance pra cá... Ricoeur fica mais empolgado a cada drible, já Furet não larga suas anotações e não distrai os olhos de cada movimento do juiz. Aos 34 minutos do primeiro tempo Forlán marca para o Uruguai. Um grupo de torcedores que estavam próximos aos dois comemora.
R: “Tá vendo, Furet? Esses ai devem ser um daqueles esquisitos que eu te falei. Parece que o pai desse jogador é sempre lembrado num time lá de São Paulo, o mesmo do zagueiro. Parece que o Forlán mais velho fez cada cena a ser lembrada, que vou te falar.
Mas foi um belíssimo gol, hein? Que cobrança! E você tem que concordar comigo que essa era a intenção dele: marcar o gol. E o lance começou ali na zaga, com a cortada da bola por esse tal de Lugano. Nossa! Que lance! Que cobrança! Que sequencia! Que narrativa!”
 
F: “Que isso, Ricoeur? Que empolgação é essa? E ‘cê tá por fora, Mané! Certeza que esses caras comemorando são gaúchos. Tudo colorado! Um time do Rio Grande do Sul que, quem diria, há oito anos ganhava um mundial e agora está numa pindaíba danada. Os números não mentem. Mudaram tudo lá. Não faz gol, não sobe na tabela... O negocio no Campeonato Brasileiro é número. É lógico. É a geração do caos.”
R: “Oi? Que coisa é essa? Gaúcho? Colorado? Você por acaso entende alguma coisa do futebol? E ainda mais no Brasil? Ou Uruguai? Ah, sei lá! Você está me deixando confuso com esse seu negocio de ciência só se faz com número.” 
F: “Pelo visto quem não entende nada é você, hein? Caramba, Ricoeur, ó só: lembra da Copa de 2010? Esse tal de Forlán, que acabou de fazer o gol, foi destaque! Marcou cinco gols e foi um dos artilheiros. Ganhou prêmio e tal... Atualmente joga num time do sul do Brasil. É nomezinho dado pra essa partida.”
R: “Quem te viu quem te vê, hein, Furet? Não me impressiona os seus números, mas saber sobre futebol... É... Olha esse lance! Olha esse passe! Nossa, esse tal de Neimar é determinado mesmo, hein? Algo me diz que o Brasil ainda vai conseguir levar essa partida!” 
Intervalo. Vira-se o campo e a partida recomeça. Furet e Ricoeur continuam atentos... são números e observações para todos os lados. Aos 15 minutos do segundo tempo Neimar leva sozinho a bola, dribla um, dribla dois, dribla três e o goleiro espalma... A bola não sai de campo, Fred rebate e marca para o Brasil.
R: “Tá vendo só? Esse ai foi feliz na conclusão. Tem gente que chama isso de lugar certo, na hora certa... eu não sei bem. Sei que ele conseguiu o seu objetivo. Já o goleiro...” 
F: “Você realmente se encontra em uma partida, hein? Vou entrar nessa, então. Se sair mais um gol pro Brasil, e assim terminar a partida, o bar é por minha conta!”
R: “Bar? Oi? Tá rico? Tá generoso, hein? O que há com você?”

F: “Que nada. Como eu te disse, conheci um pessoal que gosta dessas minhas anotações... Eles me inscreveram num tal de ‘Bolão’. Falei que a partida terminaria dois a um para o Brasil. Gostei da brincadeira... É o problema quase diversão. Haha.
Se a bolada vier pra mim, corremos o risco de perder nosso vôo. Hehe.”

Lucia N. Esteves (Noturno) - NºUSP: 7198672

Um comentário:

  1. Bom texto, coerente com a proposta, mas acabou explorando mais a narrativa e as falas de Ricoeur do que outros aspectos dos conceitos dos dois autores.

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