sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O jogo teórico

Em meio a gritos, canções, uivos, cornetadas, vaias e histerias de mais de 90 mil pessoas no Maracanã, na final da Copa do Mundo 2014, o clássico Brasil X Uruguai acontecia e no meio desse alvoroço, encontram-se dois senhores frenéticos com os lances do jogo. François Furet e Paul Ricoeur, intelectuais rivais em teorias, rivais na torcida.

FF: Está demais, não está, Paul? Tenho certeza que o Brasil leva dessa vez!
PR: O que te faz afirmar isso? – perguntou com as mãos na cabeça com o lance perdido pelo time uruguaio.
FF: Haha, veja você sentindo que vai perder! Ora, analisando os históricos dos times, em copas mundiais e principalmente nessa copa especificamente, eu digo que o Brasil vai ganhar. E olhe você mesmo, olhe esses lances!- disse com olhos arregalados para o quase gol brasileiro feito poucos segundos em meio à conversa. 
PR: Não concordo com você.   Se for levar em conta o histórico dos dois times, eu diria que o Uruguai vai vencer, repetindo o ocorrido e 1950. – disse parecendo entediado ao que via no campo. – E não é você quem afirma que os acontecimentos históricos só são validos quando esses nos ajudam a problematizar o fato num determinado tempo?
FF: Não, você está errado. Aquilo já foi, ficou no passado e na História dos dois times, porém nada é como antes, temos que pensar no que mudou desde então. O jogo, os times, técnicos, tudo mudou. Mas se levar em conta a história cronológica da rivalidade entre os dois times, desde sua primeira disputa há 98 anos, o Brasil venceu 36 jogos contra 20 do Uruguai. Sem contar que o saldo de gols do Brasil é muito maior. Se quiser mais precisão podemos discutir somente sobre os jogos em copas mundiais....  – AGARRA ESSA BOLA JULIO CESAR!!!
PR: Ah, foi quase!!!! – vibrou antes de voltar ao colega- Lá vem você com suas contações de história situadas em cima do tempo passado e presente e quantitavidade! E o pior, pretende contar isso dividindo o tempo! Você sabe o que penso sobre tempo, ele praticamente nem existe não é algo passível de mediação, François! Alias o tempo humano só se da a partir da articulação narrativa, já que é o meio para caracterizar experiências temporais.
FF: Francamente vai querer mesmo discutir essa sua teoria maluca cheia de mimeses justo agora? Escuta aqui, Paul, eu como historiador enxergo e analiso esse jogo como um dos importantes confrontos a serem analisados num futuro em que contarão a história de ambos os times. Não que seja como um fato histórico, mas será de extrema importância na memória futura. Não quero problematiza-lo em cima da História Quantitativa, mas é preciso analisar as ações através dos números.... – Vai pra cima dele, Hulk, olha o Dante ali pro passe, ou o Neymar,,ISSO VAI VAI  UUHUUU!!!
PR: Olha ai, você vibrando por um pequeno momento em que seria possível o acontecimento de um gol. Não vai concordar comigo que a existência do que antecede a narração é irrelevante, já que só pensamos nela de forma narrativa? Claro que isso não significa que não a compreendemos de forma alguma o antes de tecer uma intriga ou representação de uma ação, e que é preciso que haja algum tipo de pré-compreensão quanto a essa ação para que ela possa ser representada ou imitada.
FF: Ok, ok, você quer falar de narração? – respondeu o colega sem tirar os olhos do campo -Não sabe que a História Narrativa fixa a memória? Precisamos desdobrar os fatos dentro de um tempo para ter clareza sobre aquele intervalo de tempo passível a ser fenomenal. Reconheçamos que narrar simplesmente os fatos, de maneira não problematizada, como se o que importasse na História fosse a mera descrição dos eventos ou “dos fatos que aconteceram” será tão passível de críticas, de acordo com os critérios de uma História Problema, como descrever simplesmente os dados demográficos ou econômicos de uma determinada sociedade. Em um caso teremos a História Narrativa Factual, em outro caso teremos a História Quantitativa meramente descritiva, aquela que você simplesmente quis ignorar, e veio com seu discurso de filosofia cheia de mimeses.
PR: No meu discurso sobre a mimeses, tento mediar a dimensão da narrativa que caracteriza a história como um conjunto de acontecimentos, e também transformar meros episódios ou acontecimentos em História. Em uma sucessão de episódios, a intriga consegue dar um sentido aos atos, que sozinhas isoladas, não representam nada. Estando em ordem, é gera de um caminho condutor a ser seguido pelo leitor e assim compreender o que está narrado. Todo o seu percurso ficaria comprometido se
ele não considerasse o ponto de chegada como ato refigurante das narrativas, já que o
texto é feito para ser lido, para ser aplicado de diversas formas.
FF: Na boa, Paul, a última coisa que quero agora é discutir isso ou qualquer outra divergência acadêmica com você, curte o jogo vai, quer um cachorro quente pra te distrair dos pensamentos mimesticos?
PR: Ah que engraçadinho, mas tudo bem Françóis, vamos discutir mais tarde, sem tanto alvoroço por perto... após o Uruguai vencer – e sorrio para o colega, que se levantava da arquibancada xingando o pênalti que o Brasil acabara de sofrer.




Camila Regina de Oliveira NºUSP 7245740

Um comentário:

  1. O texto trabalhou bem com os conceitos dos autores, apresentando suas diferenças. Mas poderia ter articulado mais com a partida de futebol!

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