domingo, 6 de outubro de 2013

François Furet: O que me diz do jogo meu caro?
Paul Ricouer: Até o momento me parece bom, entretanto me lembra ligeiramente a final de 1950. Mesmos times, mesmo estádio, público grande, só espero que não se torne a mesma história de seis décadas atrás e que tenhamos superado aquela derrota humilhante.
F. Furet: Bom, assim espero também. Na semana passada fiquei deveras curioso sobre os rumos que esse jogo poderia tomar e resolvi fazer um pequeno levantamento sobre o histórico de finais de Copas do Mundo do Brasil e os confrontos diretos entre Brasil e Uruguai.
P. Ricouer: Curioso. Chegou a quais resultados com essa pequena pesquisa?
F. Furet: No histórico de finais o Brasil se mostra muito bem, foram poucas derrotas sofridas em finais de Copa do Mundo, apenas duas derrotas de sete finais disputadas, bem como em confrontos contra o Uruguai, foram 33 vitórias para a seleção canarinho contra 19 vitórias do Uruguai. Fiquei confiante após ver os números.
P. Ricouer: Acho que você tem péssima mania de focar-se demais nos números. Não sei se o Brasil tem plena capacidade para ganhar do Uruguai. Pense um pouco, só dessa vez analise uma narrativa por vez, focando nas suas especificidades. Coloque o foco temporal no hoje e você verá que temos muito poucas chances de ganhar do Uruguai. A seleção uruguaia de hoje não é a seleção dos sonhos, de fato, mas é praticamente uma mimese aristotélica do que foi a seleção de 1950. Esse time de hoje convence, joga com emoção. A seleção brasileira de hoje nos trás emoção? Envolve-nos no futebol? Foque nas especificidades da História meu caro, esqueça os números, desse modo você irá enxergar além, a História se encontra na historicidade dos fatos não na universalidade deles.
F. Furet: Caro Ricouer, o que você esta fazendo é nada mais nada menos que levantando ideias para um romance, tendo sonhos infundados, nada há de História. História só chega perto de ser uma ciência com o rigor técnico dos números e os números não mentem. Pelos números é possível ver que o Brasil de fato é o país do futebol, time, por excelência, de espetáculo. Devo confessar que nas últimas Copas a seleção não tem demonstrado um brilhante futebol, entretanto se você observar o saldo geral das vitórias da seleção em Copas do Mundo verá que ela possui mais vitórias do que ninguém e que as Copas onde ela chega mais desacreditada são as que mais ela surpreende. Você não problematiza o que diz com vagas narrativas. Se pergunte como é possível a seleção brasileira perder para o Uruguai se ela vem somando vitórias importantes desde Felipão assumiu-a? Veja os resultados pífios que o Uruguai alcançou nas eliminatórias, seria possível ele derrotar nosso time? Uruguai não ganha uma final desde 1950, qual seria a chance de ganhar esse ano?
P. Ricouer: Receio que devo concordar com você que os números não se enganam que uma vitória sempre é UMA vitória e uma derrota é sempre UMA derrota, porém creio que o que pode se equivocar é a interpretação da qual o individuo faz uso. Você esta colocando de lado o contexto histórico meu caro. Santo Agostinho já dizia que o passado é nada mais que o passado do presente, nada mais, nada menos que a nossa memória do ocorrido ou meramente o vestígio de alguma memória. Tal como, a memória nos engana. Ela se altera de acordo com o tempo e de acordo com as interpretações. Tente lidar melhor com as suas fontes, qual foi à especificidade de cada partida? Por que a seleção não foi bem nas últimas Copas? Péssimas escolhas de técnicos e jogadores medíocres. Você acha que nessa final será muito diferente? A seleção não demonstrou brilhantes resultados nessa Copa, passou no aperto e só passou empurrada pela torcida. Veja só como esta esse jogo. O Uruguai não sai do ataque.

F. Furet: GOOOOLLLL. Olha só que belíssimo contra-ataque do Brasil. O que lhe disse meu caro? Não vê que a seleção sempre impressiona em uma final? Os números jamais mentem.

Rafael Fonseca Cardoso - número USP: 7199179 - Noturno

Um comentário:

  1. Texto interessante, colocou a oposição entre Furet e Ricoeur em relação à história serial, identificada com o futebol do Brasil atual - mais "técnico" e mediado por números e à narrativa, que seria o "futebol arte" da seleção do Uruguai. Texto simples, mas bem pensado!

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