sábado, 28 de setembro de 2013

FINAL DA COPA!

Maracanã, Rio de Janeiro. Final da Copa de 2014, Brasil versus Uruguai, estádio lotado, torcida eufórica; pelos meios de comunicação, os olhos do mundo nas quatro linhas do gramado. Um senhor caminha pela arquibancada, refri e cachorro-quente nas mãos, procurando seu lugar. Finalmente encontra-o, pequena clareira na selva de gente, senta-se e olha para o lado. Um rosto familiar... Este lhe sorri e cumprimenta:

Ricoeur: Boa tarde!
Furet: Boa tarde... Que mundo pequeno! Concorda comigo Paul?
R: Opa! E contando-se que o tempo é relativo, por quê não o seria também nossa noção de espaço?
F: Pois é! Está aqui a se divertir ou está se aproveitando da ocasião para tirar experiências aos seus trabalhos?
R: Ora essa! Não imaginava que você consideraria um evento como algo significativo! Não seria, talvez, este um momento histórico?
F: Deixe de ser sarcástico, você sabe como penso! Isso não faz muita diferença, creio que o mais significativo aqui é observar a tradição destes dois países tão apaixonados por futebol.
R: Qual seu palpite para o jogo?
F: Espero que seja uma goleada. Gosto quando o placar é elástico, grande quantidade de gols. E que sejam tão bonitos quanto os das outras finais que já assisti.
R: O amigo é apaixonado assim por futebol, é?
F: Sim, sou um grande aficionado da bola! E gosto muito de poder comparar os jogos uns com os outros para poder formar uma opinião. Somente comparando um jogo com outro posso saber se o que assisti foi um grande espetáculo.
R: Interessante... Assim como você, também sou um grande amante da arte do futebol: o que se passa nos seus noventa minutos para mim é muito importante. E não dou palpite de antemão; assisto atentamente a partida, analiso seu desenrolar e, assim, formo uma opinião do jogo para depois poder contar aos amigos de boteco.
F: Mas, como assim você não dá um palpite antes? Não torce?
R: Torço para um bom futebol, que você sabe ser um esporte imprevisível. Então, antes de palpitar antecipadamente, gosto de analisar o jogo pelo que ele já foi, depois de seu término.
F: Ah! Mas quanto mais você acompanha o futebol de uma seleção e a carreira de cada um de seus jogadores, mais você sabe sobre o que ela será capaz de fazer, e terá em mente um favorito. Aí a conversa de boteco fica mais animada e discutida, e deixa de ser só “contar historinha”.
R: Não é tão simples assim como você pensa. Assim como você, não sou bobo. A história de um jogo, por mais bem assistido que seja por boleiros como nós, nunca caberá inteira na restrição de uma análise num papo entre amigos. Só não curto muito esse negócio de ficar problematizando a discussão, fica parecendo programa de meio-dia da TV Bandeirantes. Não é chato? Aquele monte de gente discutindo, discutindo, e, no fim, sempre se equivocando graças ao resultado impensável das partidas? Tempo perdido! Melhor seria se discutissem o jogo depois do seu fim. Querem antecipar o resultado, mas no final permanecem dependentes dos resultados da história do jogo.
F: Ah, mas o mais importante é a comparação que você pode fazer, por tudo aquilo que viu, e pensar no futebol atual pelo acúmulo de experiência que te permite ter uma opinião. Sem isso, não há futebol.
R: Humm... Mas concorda comigo então que “olhar para trás” então é muito importante?
F: Sim, desde que ele sirva o propósito de acumulação de conhecimento para que possamos formular uma discussão.
R: Que não explica nada...
F: Amigo, contar história não explica nada. Nunca explica. E fico intrigado com o que fazemos... Muitos pensam que ser historiador é contar histórias, mas se realmente é só isso, no fundo nada é, pois tudo podemos alterar com nosso ponto de vista.
R: É o que disse: não é tão simples assim. Não é só contar história, mas precisamos invariavelmente passar por isso.
F: Essa inexatidão me deixa maluco!
R: Se quer exatidão, procure a matemática!
F: Procurarei a matemática sim, mas só se eu estiver procurando ciência.
R: Mas se nem o tempo pode ser tido como absoluto, o que fazemos então não é ciência?
F: Não.
R: Ora essa! Afaste-se desses números e se foque no humano! É isso o que centraliza nossos esforços.
F: Se eu estivesse focado no fator humano, eu não estaria pensando no número de gols que pretendo ver hoje. Pra mim, o que está importando agora, é bola na rede. E não me importa se quem vai dar show será o Neymar ou o Forlán, o que me importa é que tenha muito show de bola aqui hoje.
R: Quanto ao futebol, concordo contigo. E desde que nossa França foi eliminada, por mim tanto faz quem ganhar também.
F: Pois é rapaz... Torci pra França, foi eliminada. Torci depois pra Rússia, só fez burrada e saiu do torneio também. Os países africanos e asiáticos aqui também foram uma decepção. Só nos restou a América do Sul na final, e tomara que o futebol aqui também não decepcione.
R: Sim, só me importa que seja uma boa partida. Mas isso, direi depois... (risos)
F: Ah, mas digo agora: pelo que tem feito na Copa até agora, o Brasil vai ganhar!
R: Ah, enfim deu um palpite é? (risos)
F: Sim, duvida? E será de goleada, você vai ver! Pode me questionar, vai! (risos)
R: Ei, mas mudando de assunto... Olha ali, pouco mais pra frente: Não é aquele roqueiro que participou daquele filme, Senhor das Armas?
F: Não, não... Parece mesmo, mas não é! É o Nemo, não conhece ele? Gente boa! Ei Nemo!


No campo, tudo pronto. E, quando ia soar o apito inicial, estranhamente o juiz guardou o apito no bolso, os jogadores saíram de suas posições andando de ré, os pássaros começaram a voar para trás...
***************************************
Aluno: Eudes de Pádua Colodino
Nº USP: 5995591

2 comentários:

  1. Uma sacada surrealista no final... Interessante.
    Eles deveriam comentar o jogo. Muito melhor que o Galvão.
    E para que cachorro quente quando se tem uma discussão quente, né? kkkkkkkkkkkkk

    Renata Garcia, noturno

    ResponderExcluir
  2. Bom texto, num diálogo amigável entre os dois conseguiu sintetizar suas questões divergentes: a narrativa e a história serial e comparativa.

    ResponderExcluir