Maracanã,
Rio de Janeiro. Final da Copa de 2014, Brasil versus Uruguai,
estádio lotado, torcida eufórica; pelos meios de
comunicação, os olhos do mundo nas quatro linhas do gramado. Um
senhor caminha pela arquibancada, refri e cachorro-quente nas mãos,
procurando seu lugar. Finalmente encontra-o, pequena clareira na
selva de gente, senta-se e olha para o lado. Um rosto familiar...
Este lhe sorri e cumprimenta:
Ricoeur:
Boa tarde!
Furet:
Boa tarde... Que mundo pequeno! Concorda comigo Paul?
R:
Opa!
E contando-se
que o tempo é relativo, por quê não o seria também nossa
noção de espaço?
F:
Pois é!
Está aqui a se divertir ou está se aproveitando da ocasião para
tirar experiências aos
seus
trabalhos?
R:
Ora
essa! Não imaginava que você
consideraria um evento como
algo
significativo! Não seria, talvez, este
um
momento histórico?
F:
Deixe de ser sarcástico, você
sabe como penso! Isso não
faz muita diferença, creio que o mais significativo aqui é observar
a tradição destes dois países tão apaixonados por futebol.
R:
Qual seu palpite para o jogo?
F:
Espero que seja uma goleada.
Gosto quando o placar é
elástico, grande quantidade de gols. E que sejam tão bonitos quanto
os das outras finais que já assisti.
R:
O amigo é apaixonado assim por
futebol, é?
F:
Sim, sou um grande aficionado
da bola! E gosto muito de poder comparar os jogos uns com os outros
para poder formar uma opinião. Somente comparando um jogo com outro
posso saber se o que assisti foi um grande espetáculo.
R:
Interessante... Assim como
você, também sou um grande amante da
arte do futebol: o que se passa nos seus noventa minutos para mim é
muito importante. E não dou palpite de antemão; assisto atentamente
a partida, analiso seu desenrolar e, assim, formo uma opinião do
jogo para depois poder contar aos amigos de boteco.
F:
Mas, como assim você não dá
um palpite antes?
Não torce?
R:
Torço para um bom futebol, que
você sabe ser um esporte imprevisível. Então, antes de palpitar
antecipadamente, gosto de analisar o jogo pelo que ele já foi,
depois de seu término.
F:
Ah! Mas quanto mais você
acompanha o futebol de uma seleção e a carreira de cada um de seus
jogadores, mais você sabe sobre o que ela será capaz de fazer, e
terá em mente um favorito.
Aí a conversa de boteco
fica mais animada e discutida, e deixa de ser só “contar
historinha”.
R:
Não é tão simples assim como
você pensa. Assim como você, não sou bobo. A história de um jogo,
por mais bem assistido que seja por boleiros como nós, nunca caberá
inteira na restrição de uma análise num papo entre amigos. Só não
curto muito esse negócio de ficar problematizando a discussão, fica
parecendo programa de meio-dia da TV Bandeirantes. Não é chato?
Aquele monte de gente discutindo, discutindo, e, no fim, sempre se
equivocando graças ao
resultado impensável das partidas? Tempo perdido! Melhor seria se
discutissem o jogo depois do seu fim. Querem antecipar o resultado,
mas no final permanecem dependentes dos resultados da história do
jogo.
F:
Ah, mas o mais importante é a
comparação que você pode fazer, por tudo aquilo que viu, e pensar
no futebol atual pelo acúmulo de experiência que te permite ter uma
opinião. Sem isso, não há futebol.
R:
Humm... Mas
concorda comigo então que “olhar para trás” então é muito
importante?
F:
Sim, desde que ele sirva o
propósito de acumulação de conhecimento para que possamos formular
uma discussão.
R:
Que não explica nada...
F:
Amigo, contar história não
explica nada. Nunca explica. E fico intrigado com o que fazemos...
Muitos pensam que ser
historiador é contar
histórias, mas se realmente é
só isso, no fundo nada é,
pois tudo podemos alterar com
nosso ponto de vista.
R:
É o que disse: não é tão
simples assim. Não é só contar história, mas precisamos
invariavelmente passar por isso.
F:
Essa inexatidão me deixa
maluco!
R:
Se quer exatidão, procure a
matemática!
F:
Procurarei a matemática sim,
mas só se eu estiver procurando ciência.
R:
Mas se nem o tempo pode ser
tido como absoluto, o que fazemos então não é ciência?
F:
Não.
R:
Ora essa! Afaste-se desses
números e se foque no humano! É isso o que centraliza nossos
esforços.
F:
Se eu estivesse focado no fator
humano, eu não estaria pensando no número de gols que pretendo ver
hoje. Pra mim, o que está importando agora, é bola na rede. E não
me importa se quem vai dar show será o Neymar ou o Forlán, o que me
importa é que tenha muito show de bola aqui hoje.
R:
Quanto ao futebol, concordo
contigo. E desde que nossa França foi eliminada, por mim tanto faz
quem ganhar também.
F:
Pois é rapaz... Torci pra
França, foi eliminada. Torci depois pra Rússia, só fez burrada e
saiu do torneio também. Os países africanos e asiáticos aqui
também foram uma decepção. Só nos restou a América do Sul na
final, e tomara que o futebol aqui também não decepcione.
R:
Sim, só me importa que seja
uma boa partida. Mas isso, direi depois... (risos)
F:
Ah, mas digo agora: pelo que
tem feito na Copa até agora, o Brasil vai ganhar!
R:
Ah, enfim deu um palpite é?
(risos)
F:
Sim, duvida? E será de
goleada, você vai ver! Pode me questionar, vai! (risos)
R:
Ei, mas mudando de assunto...
Olha ali, pouco mais pra frente: Não é aquele roqueiro que
participou daquele filme, Senhor
das Armas?
F:
Não,
não... Parece mesmo, mas não é! É o Nemo, não conhece ele? Gente
boa! Ei Nemo!
No
campo, tudo pronto. E, quando ia soar o apito inicial, estranhamente
o juiz guardou o apito no bolso, os jogadores saíram de suas
posições andando de ré, os pássaros começaram a voar para
trás...
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Aluno: Eudes de Pádua Colodino
Nº USP: 5995591
Aluno: Eudes de Pádua Colodino
Nº USP: 5995591
Uma sacada surrealista no final... Interessante.
ResponderExcluirEles deveriam comentar o jogo. Muito melhor que o Galvão.
E para que cachorro quente quando se tem uma discussão quente, né? kkkkkkkkkkkkk
Renata Garcia, noturno
Bom texto, num diálogo amigável entre os dois conseguiu sintetizar suas questões divergentes: a narrativa e a história serial e comparativa.
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