quinta-feira, 26 de setembro de 2013

RICORET

 “Boa tarde, senhores telespectadores. É com grande alegria que acompanharemos o Brasil em mais um jogo nessa Copa; e notem, trata-se de um jogo especial, afinal, é o BRASIL na f-i-n-a-l da Copa de 2014. Não saia daí porque já já tem muita emoção!”

(enquanto isso, na arquibancada)

Ambulante: “Quem quer água? Tem pipoca fresquinha! Não deixe de provar as delícias da Copa...queremos mais do que antes, queremos ganhar a partida; vendo refrigerante, salgado e coxinha!”

Ricoeur: Ah, o futebol! Uma expectativa bem grande; dois times técnicos e um conjunto de bons jogadores; não são os melhores do mundo, mas vale assistir, principalmente porque outras boas equipes ficaram para trás. Não perderei a oportunidade relatar toda essa sequencia de acontecimentos num futuro próximo...cada um conta como quer, só não decidi ainda como narrarei.

Furet: Huuum!

Ricoeur: De trás para frente, do fim para o começo ou iniciar pelo meio?

Furet: à sua livre escolha, prezado...

Ricoeur: está sem paciência? O que ocorreu?

Furet: Quero desvendar logo esse evento e, assim que acabar, relatarei os fatos e produzirei a história de daqui uns trinta anos; não a ciência, a história.

Ricoeur: Grande besteira não a considerar ciência...

Furet: Ah, De qualquer jeito;  ainda bem que não posso voltar atrrás e me retratar; diria que la ideologie do futebol sobrevive à morte de qualquer outra concepção social ou política.

Ricoeur: É o que dizem...e é verdade. Um dos fascinantes elementos de agregação do povo; carrega traços simbólicos diferenciados, mas acaba por agradar a todos aqueles que se identificam como cidadãos de um país.

Furet: Impressionante! Você sempre diz que o ser humano é um conjunto de escolhas potenciais...por que tantos escolheram esse lugar para estar? Só pelo evento??

Ricoeur: Bem Furet, tendo nascido antes de você, colega, posso afirmar que nunca vi nada parecido; nem na Copa de 1950, que não teve um público de se desprezar. Fizeram a boa escolha!!

Furet: Interessante! Repare que nesse Maracanã de 2014 tem gente de todo padrão, de toda cor, de toda sorte – são torcedores de times brasileiros distintos em regozijo homogêneo, é partidário contrário abraçando o rival político. Gente diferente dos pés à cabeça com a mesma camisa; todos equiparados pelo fato de terem adquirido um ingresso como o nosso e terem sido agraciados pelo sorteio.

Ricoeur: E lembrar daquele tempo em que o Brasil perdeu para o Uruguai no gol do Ghiggia ; tempo que passou rápido, passou em nós. O referencial, que é hoje – o agora, a partícula de segundo que estamos vivendo e que já acabou, consegue comparar o que se foi e parece espelho AQUI.

Furet: É verdade, mesmo sendo uma foto do ontem, é tão singular. Estamos fazendo a História daquele dia, aqui, contando como foi. E logo mais, faremos relatos do que se deu hoje, do que se dará.

Ricoeur: Xiuuuu...começou!

Furet: Só porque isso é um evento para você, porque tem potencial para transformar o interior de uma narrativa, quer silêncio. Não é?!

Ricoeur: Nossa, mas tá tão entendido de mim que dá preguiça. Vamos ver e parar de falar!

“Corta pro canto, corre a lateral, cruza pro meio da área e......de cabeça!  É GOOOOOOOOOOOOOOL, é gol do Brasil. BRASIL, SIL, SIL!”

Furet: Mas foi só falar! Esse fato pretérito, que existe na memória desde 1950, está repetindo-se, meu amigo!!

Ricoeur: Já disse pra parar de interpretar meus pensamentos; chega de ultrapassar dados descritos e os relacionar com níveis de realidade!!

Furet: Mas aí, é você quem está invadindo a teoria alheia!!

Ricoeur: Vamos fazer um combinado?! A gente espera acabar e depois fala; falaremos somente quando o apito soar com um resultado certo.
 Raquel Rachid N.º USP 7198950

3 comentários:

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  2. Nossa, rachei!
    Eu gostei do diálogo. Você lembrou até do gol de 1950, incrível!

    Beijos
    Renata Garcia, noturno

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  3. O diálogo contemplou de forma simples a questão da singularidade em Ricoeur e da história mais analítica em Furet. Os toques de humor tornaram o diálogo agradável.

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