“Boa tarde, senhores telespectadores. É com
grande alegria que acompanharemos o Brasil em mais um jogo nessa Copa; e notem,
trata-se de um jogo especial, afinal, é o BRASIL na f-i-n-a-l da Copa de 2014.
Não saia daí porque já já tem muita emoção!”
(enquanto isso, na
arquibancada)
Ambulante: “Quem quer
água? Tem pipoca fresquinha! Não deixe de provar as delícias da Copa...queremos
mais do que antes, queremos ganhar a partida; vendo refrigerante, salgado e
coxinha!”
Ricoeur: Ah, o
futebol! Uma expectativa bem grande; dois times técnicos e um conjunto de bons
jogadores; não são os melhores do mundo, mas vale assistir, principalmente
porque outras boas equipes ficaram para trás. Não perderei a oportunidade
relatar toda essa sequencia de acontecimentos num futuro próximo...cada um
conta como quer, só não decidi ainda como narrarei.
Furet: Huuum!
Ricoeur: De trás para
frente, do fim para o começo ou iniciar pelo meio?
Furet: à sua livre
escolha, prezado...
Ricoeur: está sem
paciência? O que ocorreu?
Furet: Quero
desvendar logo esse evento e, assim que acabar, relatarei os fatos e produzirei
a história de daqui uns trinta anos; não a ciência, a história.
Ricoeur: Grande
besteira não a considerar ciência...
Furet: Ah, ainda bem que não posso voltar atrrás e me retratar; diria que la ideologie do futebol sobrevive à
morte de qualquer outra concepção social ou política.
Ricoeur: É o que
dizem...e é verdade. Um dos fascinantes elementos de agregação do povo; carrega
traços simbólicos diferenciados, mas acaba por agradar a todos aqueles que se
identificam como cidadãos de um país.
Furet:
Impressionante! Você sempre diz que o ser humano é um conjunto de escolhas
potenciais...por que tantos escolheram esse lugar para estar? Só pelo evento??
Ricoeur: Bem Furet, tendo
nascido antes de você, colega, posso afirmar que nunca vi nada parecido; nem na
Copa de 1950, que não teve um público de se desprezar. Fizeram a boa escolha!!
Furet: Interessante! Repare
que nesse Maracanã de 2014 tem gente de todo padrão, de toda cor, de toda sorte
– são torcedores de times brasileiros distintos em regozijo homogêneo, é
partidário contrário abraçando o rival político. Gente diferente dos pés à
cabeça com a mesma camisa; todos equiparados pelo fato de terem adquirido um
ingresso como o nosso e terem sido agraciados pelo sorteio.
Ricoeur: E lembrar
daquele tempo em que o Brasil perdeu para o Uruguai no gol do Ghiggia ; tempo
que passou rápido, passou em nós. O referencial, que é hoje – o agora, a
partícula de segundo que estamos vivendo e que já acabou, consegue comparar o
que se foi e parece espelho AQUI.
Furet: É verdade,
mesmo sendo uma foto do ontem, é tão singular. Estamos fazendo a História
daquele dia, aqui, contando como foi. E logo mais, faremos relatos do que se
deu hoje, do que se dará.
Ricoeur:
Xiuuuu...começou!
Furet: Só porque isso
é um evento para você, porque tem potencial para transformar o interior de uma
narrativa, quer silêncio. Não é?!
Ricoeur: Nossa, mas
tá tão entendido de mim que dá preguiça. Vamos ver e parar de falar!
“Corta pro canto,
corre a lateral, cruza pro meio da área e......de cabeça! É GOOOOOOOOOOOOOOL, é gol do Brasil. BRASIL,
SIL, SIL!”
Furet: Mas foi só
falar! Esse fato pretérito, que existe na memória desde 1950, está
repetindo-se, meu amigo!!
Ricoeur: Já disse pra
parar de interpretar meus pensamentos; chega de ultrapassar dados descritos e
os relacionar com níveis de realidade!!
Furet: Mas aí, é você
quem está invadindo a teoria alheia!!
Ricoeur: Vamos fazer
um combinado?! A gente espera acabar e depois fala; falaremos somente quando o
apito soar com um resultado certo.
Raquel Rachid N.º USP 7198950
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNossa, rachei!
ResponderExcluirEu gostei do diálogo. Você lembrou até do gol de 1950, incrível!
Beijos
Renata Garcia, noturno
O diálogo contemplou de forma simples a questão da singularidade em Ricoeur e da história mais analítica em Furet. Os toques de humor tornaram o diálogo agradável.
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