"Olá querido ouvintes, estamos aqui mais
uma vez reunidos para festejar a 20ª edição da final da Copa do Mundo de
2014 que ocorrerá dentro de instantes, aqui, no nosso querido Maracanã.
Esse é mais um momento histórico na
história do futebol mundial. E a história se repete mais uma vez, novamente se
encontram Brasil e Uruguai para disputar mais uma final, nesse mesmo Maracanã
que outrora consagrou o Uruguai campeão mundial e selou a história do futebol
Brasileiro com o inesquecível Maracanazo.
E para me ajudar a comentar essa final
histórica contamos hoje com dois comentaristas de peso que nos ajudarão a
desvendar aquelas perguntas que estão presentes na cabeça de todos aqui
presente, o Brasil irá ganhar ou mais um Maracanazo irá passar?
Sem mais delongas, com vocês Paul
Ricoeur e François Furet! Bem vindos, sejam muito bem vindos!”
FF: Obrigado, obrigado. Boa tarde a
todos. Boa tarde Pavão Bueno, boa tarde Paul.
PR: Boa tarde ouvintes, Boa tarde
François e obrigado pelo convite Pavão. Muito inspiradoras as palavras que você
disse Pavão, mas antes de mais nada queria aclarar que devemos ver esse evento
como único e não como uma repetição histórica, afinal os tempos são outros.
“Claro, claro, mas não podemos negar
que muitos aqui presentes estão apreensivos com o que poderá passar hoje aqui,
tendo em vista o que ocorreu no passado”
FF: Olha, eu acho compreensível o
nervosismo dos brasileiros com o resultado desse conflito, mas devo aclarar que
a situação é mais favorável ao Brasil, afinal se olharmos o números de
conflitos entre as duas equipes perceberemos que o Brasil leva uma grande
vantagem sendo 35 vitória brasileiras, 16 empates e apenas 20 vitórias
uruguaias. Pra mim vai dar Brasil, com certeza.
PR: Olha François pode até ser que o
Brasil tenha um número maior de vitórias, mas esses números não provam nada que
o Brasil vai ganhar aqui hoje.
FF: É só olhar os números Paul, além
disso, o Brasil vem em uma sequência ótima de vitórias e um saldo de gols
espetacular….
PR: E você sabe que nada disso importa
numa final, aqui o que vale é o fator humano, as emoções, e não se esqueça de
que na Copa de 1950 era dada como certa a vitória do Brasil e olha só o que
aconteceu, um dos eventos mais marcantes futebol.
FF: É, mas futebol é gol, é estatística,
é o número de pontos que você marca na tabela, mas é claro, com uma pitadinha
de narrativa.
PR: Pitadinha não, muita narrativa,
futebol é pura narrativa, é uma narrativa produzida coletivamente e é essa
narrativa que faz o futebol ter esse papel social que tem e que o faz se tornar
um símbolo de nacionalidade, ele cria identidades meu querido François.
FF: Mas se é só narrativa Paul, tudo
fica relativizado, cada um conta como quer, eu até gosto de narrativa, mas
quando ela é pautada em algo sólido como números. Não gosto dessa coisa de
narrar de acordo com a verdade de cada um.
PR: Nem seus números são sólidos François,
não se esqueça de que até sua ciência é humana.
FF: Mas nem toda humanidade é ciência.
PR: E quem foi que te disse que
narrativa tem relação com a verdade, isso é você quem está dizendo, eu digo que
narrativa é uma representação do vivido.
FF: Eai tudo fica relativizado….
“Que inspiradoras meus amigos as
palavras de você, mas o povo veio aqui hoje pra saber de futebol e não de
história.”
PR: Discordo Pavão, história é algo que
interessa a todos os homens é com ela que a gente aprende, e aprende até sobre
futebol, ela ajuda a construir significados sociais e culturais e por isso ela
também constrói o futebol através da memória coletiva.
FF: Agora você vai me dizer que
história só tem a ver com a memória....
PR: Pois é meu caro...
FF: Ai Paul, história trabalha com
coisas que até a memória desconhece...
PR: Os momentos meu amigo, só são
importantes porque estamos aqui hoje pensando neles como uma memória construída
coletivamente, assim nos construimos a sua relevância e seu significado.
FF: A especificidade da história é estudar
a evolução dos acontecimentos no tempo, dispondo de dados comparáveis entre si,
dados que muitas vezes fogem da memória...
“Meu queridos, vamos falar de futebol. Eai
qual vai ser o placar?”
FF: É Brasil na cabeça.
“E você Paul?”
PR: Prefiro não opinar, futebol é algo imprevisível,
não da pra dizer quem vai ser campeão”
Muito bom o texto! Conseguiu construir uma diálogo dinâmico dando lugar para o debate intelectual entre os autores e tendo como objeto a narrativa e a memória. A distinção futebol "técnico" para o Furet e futebol como "pura narrativa" para o Ricoeur embasou a discussão entre eles.
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