segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Copa do Mundo 2014

"Olá querido ouvintes, estamos aqui mais uma vez reunidos para festejar a 20ª edição da final da Copa do Mundo de 2014 que ocorrerá dentro de instantes, aqui, no nosso querido Maracanã.
Esse é mais um momento histórico na história do futebol mundial. E a história se repete mais uma vez, novamente se encontram Brasil e Uruguai para disputar mais uma final, nesse mesmo Maracanã que outrora consagrou o Uruguai campeão mundial e selou a história do futebol Brasileiro com o inesquecível Maracanazo.
E para me ajudar a comentar essa final histórica contamos hoje com dois comentaristas de peso que nos ajudarão a desvendar aquelas perguntas que estão presentes na cabeça de todos aqui presente, o Brasil irá ganhar ou mais um Maracanazo irá passar?
Sem mais delongas, com vocês Paul Ricoeur e François Furet! Bem vindos, sejam muito bem vindos!”

FF: Obrigado, obrigado. Boa tarde a todos. Boa tarde Pavão Bueno, boa tarde Paul.
PR: Boa tarde ouvintes, Boa tarde François e obrigado pelo convite Pavão. Muito inspiradoras as palavras que você disse Pavão, mas antes de mais nada queria aclarar que devemos ver esse evento como único e não como uma repetição histórica, afinal os tempos são outros.

“Claro, claro, mas não podemos negar que muitos aqui presentes estão apreensivos com o que poderá passar hoje aqui, tendo em vista o que ocorreu no passado”

FF: Olha, eu acho compreensível o nervosismo dos brasileiros com o resultado desse conflito, mas devo aclarar que a situação é mais favorável ao Brasil, afinal se olharmos o números de conflitos entre as duas equipes perceberemos que o Brasil leva uma grande vantagem sendo 35 vitória brasileiras, 16 empates e apenas 20 vitórias uruguaias. Pra mim vai dar Brasil, com certeza.
PR: Olha François pode até ser que o Brasil tenha um número maior de vitórias, mas esses números não provam nada que o Brasil vai ganhar aqui hoje.
FF: É só olhar os números Paul, além disso, o Brasil vem em uma sequência ótima de vitórias e um saldo de gols espetacular….
PR: E você sabe que nada disso importa numa final, aqui o que vale é o fator humano, as emoções, e não se esqueça de que na Copa de 1950 era dada como certa a vitória do Brasil e olha só o que aconteceu, um dos eventos mais marcantes futebol.
FF: É, mas futebol é gol, é estatística, é o número de pontos que você marca na tabela, mas é claro, com uma pitadinha de narrativa.
PR: Pitadinha não, muita narrativa, futebol é pura narrativa, é uma narrativa produzida coletivamente e é essa narrativa que faz o futebol ter esse papel social que tem e que o faz se tornar um símbolo de nacionalidade, ele cria identidades meu querido François.
FF: Mas se é só narrativa Paul, tudo fica relativizado, cada um conta como quer, eu até gosto de narrativa, mas quando ela é pautada em algo sólido como números. Não gosto dessa coisa de narrar de acordo com a verdade de cada um.
PR: Nem seus números são sólidos François, não se esqueça de que até sua ciência é humana.
FF: Mas nem toda humanidade é ciência.
PR: E quem foi que te disse que narrativa tem relação com a verdade, isso é você quem está dizendo, eu digo que narrativa é uma representação do vivido.
FF: Eai tudo fica relativizado….

“Que inspiradoras meus amigos as palavras de você, mas o povo veio aqui hoje pra saber de futebol e não de história.”

PR: Discordo Pavão, história é algo que interessa a todos os homens é com ela que a gente aprende, e aprende até sobre futebol, ela ajuda a construir significados sociais e culturais e por isso ela também constrói o futebol através da memória coletiva.
FF: Agora você vai me dizer que história só tem a ver com a memória....
PR: Pois é meu caro...
FF: Ai Paul, história trabalha com coisas que até a memória desconhece...
PR: Os momentos meu amigo, só são importantes porque estamos aqui hoje pensando neles como uma memória construída coletivamente, assim nos construimos a sua relevância e seu significado.
FF: A especificidade da história é estudar a evolução dos acontecimentos no tempo, dispondo de dados comparáveis entre si, dados que muitas vezes  fogem da memória...

“Meu queridos, vamos falar de futebol. Eai qual vai ser o placar?”

FF: É Brasil na cabeça.

“E você Paul?”

PR: Prefiro não opinar, futebol é algo imprevisível, não da pra dizer quem vai ser campeão”

“Ok então, vamos para o hino nacional e boa sorte às duas equipes” - ( Da próxima vez eu chamo duas pessoas menos complicada pra me ajudar a comentar.)

Um comentário:

  1. Muito bom o texto! Conseguiu construir uma diálogo dinâmico dando lugar para o debate intelectual entre os autores e tendo como objeto a narrativa e a memória. A distinção futebol "técnico" para o Furet e futebol como "pura narrativa" para o Ricoeur embasou a discussão entre eles.

    ResponderExcluir